sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Crítica - Shame


Poucos filmes que eu vi durante a minha vida conseguiram me deixar com um sentimento tão grande de angústia como Shame.


Não só o roteiro e a excelente atuação de Michael Fassbender contribuiram pra isso, o contexto inteiro do filme, sua montagem, sua edição, sua trilha sonora. Tudo cria um clima incrível de imersão. Logo nos primeiros minutos do filme, vemos Brandon (Fassbender) trocar olhares sedutores e recíprocos com uma linda mulher no metrô de NY. Nessa cena conseguimos compreender a grande força motriz do filme, Fassbender mostra um interesse sexual intenso na mulher antes mesmo dela fazer qualquer movimento. 

Somente essa cena conseguiu pontuar firmemente a psiquê de Brandon, um viciado em sexo. Exatamente isso, viciado em sexo. O ato sexual deixou de ser algo que envolva o sentimento e um contato interpessoal com a parceira(o) para ser apenas um shot da droga favorita dele. Isso fica evidente na cena do metrô quando Brandon encara a moça em questão como um maconheiro olha a seu baseado. O personagem é pode ser considerado uma incógnita das grandes, ele se desvencilhou de qualquer ligação emocional com o mundo e as pessoas que o cercam, isso fica muito evidente em seu apartamento, impessoal, cinza, sem muitos aparatos de decoração puramente estéticos, então, quando Brandon vê sua irmã invadindo seu habitat com sentimentos, cores e emoções, ele reage confuso e com raiva.

Brandon é um personagem que me remeteu muito a Jack, de Clube da Luta, um homem que acha nas rotinas repetitivas e sem final uma forma de conseguir ordenar o caos de sua vida. Brandon corta qualquer ligação emocional ainda em seus estágios iniciais, desacreditando totalmente em coisas como monogamia ou a instituição do casamento, mas tais muletas são somente uma forma dele evitar o seu maior temor: depender emocionalmente e afetivamente de outra pessoa. Quando ele finalmente acha que encontrou ordem em uma parceira fixa, brochou. Mas em poucos minutos depois conseguiu manter a ereção com uma prostituta qualquer. Isso deixa claro que a impotência dele é emocional e não física.

A fotografia é impecável, Sean Bobbit consegue com ela trazer acréscimos significativos ao roteiro e as suas subjetividades, principalmente na cena em que Brandon se encontra em um ménage e Sean foca somente em braços, pernas e detalhes do rosto de Brandon e das mulheres, mostrando o quão incompleto as mentes do personagem e de suas prostitutas são.

E mesmo que Brandon acabe o filme sem se livrar de sua bagagem emocional, aquele vazio melancólico em seu olhar mostra uma percepção mais afundo de sua mente perturbada, e como todo viciado, reconhecer o problema é o primeiro passo à redenção, o que no caso seria a descoberta do orgasmo como comunhão ao próximo e não só uma sensação física ecoada no vazio de seu coração.

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